domingo, 6 de setembro de 2009

Para o meu amor que se lembrou de mim

Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar

E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube o que ela deu
O que ninguém
Estava lá para dar

Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção

Uma canção passou no rádio
Habitou um sexto andar

sábado, 5 de setembro de 2009

Vamos ouvir esta música tocar?


Sentes a música a mudar?


Calou-se a cacofonia e o desânimo

Já não se ouve o ritmo inseguro

E ainda que o novo som não soe puro

Nasce da metamorfose e do esforço legítimo.


Não consigo nem quero evitar

O sorriso que desenhas na minha boca

E mesmo que o sono se vá, e eu fique rouca

Vou cantar

Vou gritar

Vou deixar toda a gente a pensar

No que sente uma mulher quando se deixa levar

No que sente esta mulher quando se volta a apaixonar.


Vamos ouvir esta música tocar?

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Há um papel branco e eu não sei.

Há tantos sóis de aguarela
mas desta vez não me quero enganar
Tudo o que deixo ficar nesta tela
Não escolhi nem decidi
Comecei por encontrar.

Vivi
(Já não tenho a certeza)
Aceitei
(Nem me dei outra escolha)

Então porque é que nada sinto senão estranheza?
E não consigo encontrar-me nem perder-me nesta folha?

Ligações(21-09-2005)


Por vezes, é preciso desligar antes da ligação estar completa. É preciso não se ter aquilo que mais se deseja. É preciso não chegar a onde, em pensamentos, sempre estamos.

Por vezes, é melhor não se ter aquilo, ou aquele que desejamos, só para deixar o tempo fazer a diferença entre o irrelevante e o que vai dar todo um novo relevo à vida. E a questão não é que o irrelevante nos faça perder tempo, o tempo não se perde, gasta-se, de forma melhor ou pior. O que a vida me ensinou é que há coisas boas demais à nossa espera, e que cada minuto, hora ou dia gasto no irrelevante nos enche a vida de lixo, que se vai instalando dentro de nós e com o qual nos habituamos a viver. A Raposa dizia que “o essencial é invisível aos olhos” e eu concordo, mas, essencialmente, acho que o essencial é invisível pelo tempo, e é por isso que acho que, por vezes, é melhor não termos aquele ou aquilo que tanto se deseja… Só para deixar o tempo fazer a diferença…

Por vezes, é melhor não voltar. Deixar eternas as memórias de um lugar, de uma pessoa. Porque, quando voltamos, nada vai ser o mesmo, vai ser um estar não sendo, um ser não estando, e a sensação de violação profana do sagrado, que são as nossas mais perfeitas vivências, vai acompanhar cada passo do caminho. Há sempre uma boa razão para as coisas acabarem, para partirmos dum lugar; mesmo que essa razão seja um simples erro, é dos erros que aprendemos e crescemos. E é por isso que, por vezes, é melhor não voltar.
Por vezes, é preciso partir antes de se chegar. Não entregar tudo quando mais nos queremos dar, continuar a encher o balão, ainda que saibamos que ele pode rebentar.Por vezes, é só chegar um bocadinho para trás, é só dar algum espaço. Por vezes, é só deixar o silêncio ser o maior grito, é só dar lugar a quem queremos deixar entrar. Por vezes, é preciso não puxar tanto pelas pessoas, só para ver o que elas nos podem dar só por elas, e que pode ser tanto. É preciso não forçar, deixar a verdade causar a naturalidade e ver o amor nascer, a essência aflorar. Por vezes, na maior parte das vezes, é preciso mesmo não nos preocuparmos muito e respirar fundo; no entanto, é preciso que em todas as vezes, mesmo sem a certeza de que queremos, tenhamos a certeza do que não queremos.

Um beijo de boa noite(22-09-2005)


Tentei pôr em palavras o que sinto por ti, mas o resultado foi tão ridículo que a própria folha não aceitava a tinta, como se até o papel sentisse que não havia sentido no que eu estava a fazer. Tentei pôr em palavras o que sentia por ti pois as palavras são o meu campo e o meu domínio, é através das palavras que faço com que o mundo perceba o que eu quero que perceba. As palavras são o meu microfone e o meu palco, são o meu jogo de luzes e som; são o meu pincel e a minha tela, são os sóis de aguarela; são o meu sorriso e são abraços à distância; são o beijo de boa noite e são o beijo que seca as lágrimas de quem já não as consegue chorar.

Não percebo então porque não consigo pôr em palavras o que sinto por ti…Sei que não é amizade, a amizade não é isto; a amizade implica conhecimento, experiências em comum; a amizade pede confiança e pede confiança na amizade do outro, e se eu nem sei o que sinto por ti, isto não pode ser amizade!

Sei que não é paixão, não é amor, eu já estive apaixonada e não se aproxima, é completamente impossível algo tão inexistente ser amor, o amor é a essência derradeira da substância, é o que há além dela, o que nos une a todos e eu estou tão longe de ti que isto não pode mesmo ser amor, ou sequer algo parecido!

Esta é a carta que não acabo para não te acabar em mim, mas pensa só que não consigo pôr em palavras o que sinto por ti e que elas são o meu beijo de boa noite.

Boa noite…

Gravação(27-09-2005)


Às vezes gosto de te escrever; não enviar-te cartas ridículas, como todas as cartas fora do seu tempo e espaço, em que tento resgatar-te dum passado já sem substância, mas sim gravar-te no papel, cravar-me no papel e deixar eterno o que já não é…gosto de te escrever.

Às vezes gosto de escrever-te, não para me abstrair do presente mas para guardar em mim tudo o que já fui, como tirar uma fotografia ao momento que já passou e fazer em mim o teu álbum.

Às vezes gosto de escrever-te, para compreender quem sou e não me sentir tão extraterrestre desta minha substância padrão…Será possível canonizar uma existência?Ás vezes gosto de escrever-te, com o pressuposto de que nada disto faz sentido para ti e sem a mínima necessidade de que leias quem fomos e o que foste para mim; chama-me egoísta, egocêntrica ou qualquer que seja a palavra que represente este meu rewind psicológico de imagens, cheiros, sons e pele – quase sabor -, mas o recordar é um acto solitário e tu só podes estar comigo se não estiveres a meu lado. De momento, não faz sentido estares sendo.
Às vezes gosto de te escrever: despir-me deste presente que sou eu – e desejo – e voltar a mergulhar na doçura do que não fomos, só porque não era suposto sermos – e não porque fosse muito cedo, como tu um dia respondeste -. Não, meu querido, não era cedo nem tarde, tudo na vida nos aparece exactamente na altura certa e nós nem temos que tentar perceber; é tão fácil! É só viver, e a vida vai-nos refrescando baixinho com a brisa de Verão, sem pressas ou exaltações, com tudo o que precisamos para aceitar o passado, glorificar o presente e não depender da felicidade que o futuro possa vir a trazer.
Gosto de mergulhar na tua doçura, na forma como me fazias sentir, na dependência que sentia do teu estar, só para me lembrar que já tive o que por vezes desejo e que nunca foi isso que me preencheu, que tocou todos os pontos da minha sensibilidade, que fez desaparecer as ânsias e o vazio de tudo o que não somos, se bem que isto que não fomos não fosse amor.
Às vezes gosto de te escrever…Por favor não me leias nem respondas, de todas as vezes quero-te só aí, nas memórias e nas estórias.
É só às vezes...

Canção(17-01-2006)


Inspiraste-me a escrever-te a canção
Que sei não nos cantar, mas ao amor
E, subjacente À melodia, dor
Por nem loucura ser nossa paixão.

Inspiraste-me a escrever-te a canção
Que sei não te cantar, mas ao amor
E a cada nota tentei sobrepor
A ridícula dor de coração.


Inspiraste-me a escrever-te,sonhar,
Só por uns tempos a olhar p'ra trás,
Com o que não sei querer, não bastar.

Inspiraste-me a perder-me da paz
E tão intensamente desejar
Perder-me no que este amor não traz...

Sorry I can't be perfect?(03-02-2006)


A perfeição não existe...e ainda bem, porque seria insuportável!! Quem quer uma vida lisa, homogénea, monótona como as folhas brancas de papel?

A perfeição não existe, é uma ideia criada por aqueles que não têm amor-próprio, por aqueles que precisam de padrões externos e sorrisos amáveis para chegarem a uma ideia ligeiramente agradável, quase a roçar o " simpáticazinha", deles próprios. A perfeição é criada por quem não sabe quem é só porque tenta desesperadamente preencher o espaço que a alma deixou para o divino entrar em nós com ideias feitas, pensamentos racionais, silogismos categóricos que seguem todas as regras da validade...Vazios de verdade!

A perfeição não existe, não vale a pena tentar viver à altura de padrões que a sociedade, o que quer que isso seja, criou para parecermos bonitinhos e iguaizinhos. Não vale a pena, eu só quero ser feliz... Nobody is perfect, but who wants to be nobody?

Sim, a perfeição não existe...e isso só me serve de alívio! Acordei a tempo, e foram só 17 anos À espera dela...Tenho uma vida inteira para esperar eu...Ou ser EU!

Receber-te(11-02-2006 )


Há muito que queria algum tempo para ficar aqui longe a aproximar-me de ti... Há já algum tempo que queria morder um pedaço de paz para diluir em mim o teu sorriso e deixar que o sangue leve a unidade mais básica estrutural do meu ser a todos os recantos de mim:o amor. Por muito que vá chegando a quem sou, por muito que vá desistindo das lutas perdidas em que perco o que quero ganhar e caio depressa donde tento sair, a vida não é exactamente aquilo que quero nem aquilo que faria dela. É por isso que nesta tarde de descanso me preparo para receber quem não vens.Não importa. Hoje preparei-me só para pensar em ti: desliguei a dissintonia dos programas da tv, fechei o livro que nem me encanta nem me lê e deixei de lado as confusões só por esta tard e contigo...sem ti.

É fantástico o efeito que tens sem estar, é fantástica a doçura do teu olhar, do teu sorriso...Como se fosses tudo o que eu preciso!

Só por esta tarde...sim, talvez sejas...só esta tarde...

O regresso dos ateus(whatever)

O tempo tira significado às memórias?

Escrito há uns anos:

É estranho como as coisas se passam, como as distrações duma vida comum podem afastar-nos daqueles de quem mais gostamos só porque finalmente nos sentimos parte de algo...que nem sei se é verdadeiro ou não.Há promessas que fazemos na areia e o mar acaba por levar, há promessas que escrevemos no gelo mas o sol acaba por derreter. Aquilo que tentamos tornar material acaba sempre por sucumbir Às forças da Natureza, mas a força do Amor (e sabes que sempre acreditei que a Amizade verdadeira é das mais puras e difíceis formas de amor) é, de todas elas, a derradeira e a mais poderosa. Estabelece ligações mais fortes que as covalentes, provoca reacções mais complexas que as de oxirredução e liberta materiais mais intoxicantes que o Stromboli! Por isso, há promessas que têm que ser feitas na alma e gravadas na aura, para que tenham a seu lado a maior de todas as forças da Natureza, para que todo o Universo conspire a seu favor, tal como Vénus conspirou pelas nossas naus, como um vento forte que nos empurra cada vez mais para a frente, cada vez mais para cima!Amo-te minha querida, e fico muito triste que possas sequer duvidar disso... É das amigas que mais valorizo e em quem mais acredito, a irmã que nunca tive, com este mau feitio e esta força em comum=P. Deve ser por isso que gosto tanto de ti...Dás-me coragem para ser mais eu, independentemente do que quer que venha de fora! Não mudes nunca, não duvides nunca, mas diz-me sempre tudo, porque foi esta comunicação que nos levou assim longe, assim perto!

Liberdade(17-08-2006 )


Sensação de liberdade a qualquer preço
Sem pressa, regresso
E pelo que mereço
(Não faz sentido)esqueço,
Já que nunca pereço,
O que não fiz, por pretenso apresso

Asas(03-09-2006 )


Feeling free to laugh

Feeling free to act

Feeling free to speak

Feeling free to test

Feeling free to walk away

Feeling free to stay

Feeling free to imagine

Feeling free to make it real

Feeling free to block it

Feeling free to feel


Feeling free to live

Feeling free to love*

Carta para mim (03-06-2007 )


Querida

falo-te hoje em nome da pessoa que gostaria que tivesse falado comigo há alguma vida atrás.Já que ela nunca esteve, nem algum dia virá a estar, cá, nem para mim nem para ti, tenho que ser eu a dar-te as más notícias, e explicar-te como é que podes mantê-las afastadas do teu sujeito.

Em primeiro lugar, a vida é lixada, difícil, matreira. E quanto a isto, se souberes como evitá-lo, manda-me tu um email a explicar-me, porque eu ainda não consegui perceber (mas, sinceramente, não tentes muito, porque nem vale a pena por ser impossível como por ser assim que sabe bem).

Em segundo lugar, ela vai dar-te a volta quando menos estiveres à espera, e vai tirar-te não só o tapete como a alcatifa, os tacos e até o próprio chão e o que está por baixo dele, fazendo-te pensar que nunca vais para de cair...mas vais, e bates com o rabo no chão e custa que nem sabes! Sinceramente, está atenta... não é assim tão difícil: basta ouvires o que as pessoas te dizem e veres o que as pessoas fazem. Pois, eu sei que ninguém está habituado a isso. Mas acredita que se não ouvires o que aquele que mais amas te diz, isso vai custar-te muito caro e tu vais sentir-te tão burra mas tão burra que só te apetece voltar atrás no tempo e apagar todas as borradas que fizeste, todas as coisas que disseste que magoaram mais que nada se chegar a dizer. Mas o tempo não volta atrás, o tempo nunca te dá aquilo que tu queres, e eu por enquanto faço figas para que ele te dê o que mais precisas que te dá o que mais precisas. E já agora, alguém que acredite em ti quando tu pedes uma oportunidade para tentar tudo outra vez. Porque o tempo a mim sempre me deu muita sorte (e eu muitas vezes abuso dela).

Terceiro: NUNCA tomes ninguém por garantido! E muito cuidado quando pensas que alguém te está a tomar por garantida...pode ser só um reflexo do que não tens coragem de admitir. Dá sempre o melhor de ti a quem queres manter na tua aura, e nunca penses que só porque alguém te ama mesmo muito tu lhe podes fazer o que te fizeram sem sofreres as consequências.

Além de tudo isto, sem muita ordem ou sequer lógica, não penses muito, tem calma e não stresses, NÃO INSULTES NINGUÉM EM SITUAÇÃO ALGUMA, e ama muito bem aqueles que amas muito. E outras coisas que depois descobres por ti própria. Mas, por favor, ama sempre muito aqueles que amas muito, porque nem sabes o quanto dói quando sentes que alguém está a perder a vontade de ficar.

E, querida, tu consegues sempre tudo.

Espera


Não sei onde,

Lá fora,

Demora.


[Digo à chuva que te quero

Como a ela lhe quer a vida

E todo o Homem, espero

Quer a paixão sua perdida.

E se a chuva te trouxer

Deixo janelas e porta aberta

E uma alma descoberta-

A que receber te quiser-]


Não sei até que hora

demora, lá fora,

essa outra alma,

essa outra calma,

que sabiam quem me ama.


Por onde se demora a chama?

Memórias I

Não há muitas palavras para este vazio, nem sequer devem ser suficientes para encher uma folha, mas só o papel pode compreender esta brancura que eu sinto. Amanhã, as paredes vão ser pintadas, e por isso tirei-lhes os quadros e as fotografias, mas há janelas abertas em mim, abertas para ti, que mostram que bem mais vazias estão as gavetas dos armários das salas e dos quartos que eu guardei para te gostar...sempre que quiseres chegar.
Sabes, estou tão cheia desta languidão e desta abnegação de te querer que podia passar horas sem pensar em nada, sem sequer pensar em ti, porque já estãos tão entranhado e tão espalhado pelo meu corpo que a tua presença nestas horas brancas não tem nada a ver com a tua cara ou o teu corpo, com o que fazes ou o que és. Reconheço que chegas quando sou invadida por uma paz que nunca antes conheci, quando nada mais à volta está vivo e o mundo existe todo dentro de mim, reconheço-te quando adormeces os meus demónios e eu própria já não tenho medo de dormir.
Não tenho pressa, mas tenho muitas saudades do teu sorriso, dos teus olhos e do teu olhar, tenho saudades de te olhar e de te querer.
Sou contraditória, como o AMor, completo-me, como o Amor, e sei estar bem contigo ou sem ti.
Não escondo o desejo, não escondo a fúria da paixão, não escondo este craving que me dá vontade de te fazer todas as coisas que, em pensamento, te faria corar.
No entanto, longe de ti, o vento traz-me o teu cheiro (traz mesmo!), e eu desconcentro-me do supérfluo para me concentrar no mundo que és em mim e à minha volta, e perco-me e encontro-me nestas paredes brancas que amanhã vão ser pintadas...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sítios

Há sítios para onde gosto de olhar e sítios de onde tento fugir.
Há sítios onde estou a tentar chegar e outros de onde não consigo sair.

Há sítios bonitos e sítios feios
Há sítios pequenos e sítios grandes.
Há sítios onde somos queridos,outros onde a todos somos alheios
E sítios que só interessa que até lá andes.

Há sítios a que chamei casa,dos quais nem tive a chave
Onde descobri que a amizade te dá a liberdade de uma ave.
Há sítios onde chorei e não percebi o afastamento
E sítios onde hoje só posso voltar em pensamento.
Há sítios em que acreditei no regresso dos ateus.
E sítios onde me zanguei e despedi o meu Deus.
Há hoje sítios que me mostram que a verdade não é imediata
E sítios onde só posso respirar para ter e dar espaço.
Há sítios tão apertados que o sufoco quase mata
E sítios que amparam quedas e aliviam o cansaço.

Há sítios onde posso ser eu.
Há sítios onde não sei quem sou.

Este é o sítio onde tudo mudou.