quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ligações(21-09-2005)


Por vezes, é preciso desligar antes da ligação estar completa. É preciso não se ter aquilo que mais se deseja. É preciso não chegar a onde, em pensamentos, sempre estamos.

Por vezes, é melhor não se ter aquilo, ou aquele que desejamos, só para deixar o tempo fazer a diferença entre o irrelevante e o que vai dar todo um novo relevo à vida. E a questão não é que o irrelevante nos faça perder tempo, o tempo não se perde, gasta-se, de forma melhor ou pior. O que a vida me ensinou é que há coisas boas demais à nossa espera, e que cada minuto, hora ou dia gasto no irrelevante nos enche a vida de lixo, que se vai instalando dentro de nós e com o qual nos habituamos a viver. A Raposa dizia que “o essencial é invisível aos olhos” e eu concordo, mas, essencialmente, acho que o essencial é invisível pelo tempo, e é por isso que acho que, por vezes, é melhor não termos aquele ou aquilo que tanto se deseja… Só para deixar o tempo fazer a diferença…

Por vezes, é melhor não voltar. Deixar eternas as memórias de um lugar, de uma pessoa. Porque, quando voltamos, nada vai ser o mesmo, vai ser um estar não sendo, um ser não estando, e a sensação de violação profana do sagrado, que são as nossas mais perfeitas vivências, vai acompanhar cada passo do caminho. Há sempre uma boa razão para as coisas acabarem, para partirmos dum lugar; mesmo que essa razão seja um simples erro, é dos erros que aprendemos e crescemos. E é por isso que, por vezes, é melhor não voltar.
Por vezes, é preciso partir antes de se chegar. Não entregar tudo quando mais nos queremos dar, continuar a encher o balão, ainda que saibamos que ele pode rebentar.Por vezes, é só chegar um bocadinho para trás, é só dar algum espaço. Por vezes, é só deixar o silêncio ser o maior grito, é só dar lugar a quem queremos deixar entrar. Por vezes, é preciso não puxar tanto pelas pessoas, só para ver o que elas nos podem dar só por elas, e que pode ser tanto. É preciso não forçar, deixar a verdade causar a naturalidade e ver o amor nascer, a essência aflorar. Por vezes, na maior parte das vezes, é preciso mesmo não nos preocuparmos muito e respirar fundo; no entanto, é preciso que em todas as vezes, mesmo sem a certeza de que queremos, tenhamos a certeza do que não queremos.

1 comentário:

Tiago Freitas disse...

Bem Rita já sabes que eu a comentar o teu blog só vou dizer bem do que escreves, nao é? :p Mas a verdade é essa, cada palavra que escreves é sempre diferente e consegue impressionar-me.

Mas indo direito ao texto propriamente dito. Este realmente diz muito e, de certa forma, qualquer pessoa consegue indentificar-se um pouco nestas tuas palavras. Quem já não sentiu que por vezes um pouco de tempo sozinho, um pouco de espaço para nós próprios, é a melhor solução para um mero (ou nao) problema? Certamente, todos nós já o sentimos.
E uma coisa dizes muito bem: "é preciso que em todas as vezes, mesmo sem a certeza de que queremos, tenhamos a certeza do que não queremos". Na minha opinião, é a chave para disfrutar a 100% daquilo que realmente queremos.

Parabéns Rita. Continua essa tua escrita espectacular :D*